22.8.11

reflexões de um cristão alvinegro

Sábado houve a partida entre Cruzeiro e Ceará em MG. Por falta de opção fui com minha esposa e pai a um restaurante próximo assistir ao jogo. O Ceará jogou muito bem durante os 90 minutos, mas por um erro da arbitragem o Cruzeiro venceu por 1a0 com um gol de penalti.

O restaurante estava lotado de alvinegros empolgados com a bela apresentação do Ceará. No momento do penalti mal marcado um grupo de uns 15 jovens menores de idade, muito provavelmente tricolores torcedores do Fortaleza, comemorou com gritos, gestos e pancadas na mesa. A mesma comemoração se repetiu no momento do gol e após o apito final.

Os menores de idade estavam no direito de se expressar, mas não estão isentos de receberem o troco com ofensas ao ponto de um torcedor mais exaltado jogar um garfo em direção a mesa das "crianças". O garfo não atingiu nenhum deles. Entretanto, o gerente ficou preocupado e alguns garçons ficaram próximos a mesa dos jovens.

Meu pai já havia ido embora e minha esposa pediu para que também fossemos para evitar qualquer confusão. Ela é sábia e viu em meu olhar que eu estava aprovando o ato hostil àquela mesa dos menores despeitados, inocentes ao ponto de provocar um salão com mais de 100 alvinegros. É preciso uma certa sensatez ao escolher um local para expressar a paixão por um clube. Certamente num ambiente cercado de torcedores do maior rival não é uma boa opção.

Sou sócio-torcedor do Ceará. Talvez por este motivo me sinta obrigado a ir a todos os jogos do alvinegro que ocorrem na capital cearense. Pago ao clube, gasto combustível, pago ao flanelinha, enfrento filas e corro o risco de não conseguir um bom local no estádio para assistir ao jogo. Me divirto com os amigos, com os fatos engraçados e com a ótima fase do clube, mas depois do jogo tudo volta ao normal. O clube não me dá retorno financeiro e quando não cumpre com minhas espectativas de uma bela vitória, me deixa chateado. Apesar desse risco, sempre estou lá, seja quarta, sábado, domingo, de tarde ou de noite. O Ceará faz minha agenda, sem garantias.

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Domingo, fui à missa a contragosto, mas prestei atenção a homilia. O padre citou o pedido do Papa, na Espanha, para que os católicos assumissem a religião sem o receio, ou vergonha, da reação dos demais. Ao meu ver, toda religião é feita por homens e estes estão propensos aos erros. A igreja católica já assumiu alguns erros e segue em frente levando fé e amor aos que ainda respeitam as leis cristãs nesse mundo cheio de mudanças e cobranças de postura e opinião da sociedade. Muitos omitem algumas opiniões para serem aceitos na sociedade. Não são ingênuos como as "criancas" daquela mesa. Há um certo respeito sobre diversos assuntos para que a convivência aconteça.

A missa é todo domingo no mesmo horário, contribuo quando quero, tenho certeza que sairei satisfeito e mais experiente para lidar com as vitórias e derrotas que a vida me trás.

Ontem a igreja que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis e importantes da vida me fez um pedido simples: que eu vestisse a camisa dela. Sem receio de hostilidade. Até porque não há motivos para hostilizar quem lhe deseja o bem.

Eu visto a camisa do Ceará a anos só pelo direito de momentos de alegria, descontração, do orgulho de ver um time da região esquecida do país eliminar os times arrogantes. Do pobre vencer o rico. De ver pessoalmente Davi derrotar Golias. E, claro, de brincar com os amigos que torcem pelo rival.

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Quarta-feira passada eu perdi a única partida do Ceará, em casa, pela Série A na vitória do Ceará por 3a0 contra o Grêmio de POA. Estava na igreja num curso de padrinhos de batismo.

Próximo domingo serei padrinho de batismo pela primeira vez. O pai e mãe da criança são tricolores. Meu cumpadre abre as portas da casa dele sempre que peço para ver os jogos do Ceará. Ele até torce pelo Ceará às vezes. Já foi a um jogo do alvinegro e se misturou à torcida. Logo ele que nem vai ao estádio para ver seu time jogar.

Ele me fez um pedido, em tom de brincadeira, para que eu não presenteasse minha futura afilhada com uma roupinha de neném do Ceará. Quarta-feira passada eu respondi a brincadeira dizendo que daria sim a tal camisa alvinegra.

Depois deste fim de semana a resposta mudou. Minha obrigação de padrinho é que ela siga a vida cristã. Vou ajudar eles, junto com minha esposa (a madrinha), que eles criem uma criança saudável, inteligente, educada e respeitosa. O time que ela vai torcer não tem importância. No outro dia tudo volta ao normal. Não muda nada. O que importa é se ela estará de bem com Deus e consigo mesma.

O fanatismo, seja ele por um clube de futebol ou religião, não traz benefício algum.

Adolecente cego de paixão. Religioso cego pela religião. Torcedor cego pelo clube. Criança cega por um garfo.

4 comentários:

Larissa Maia disse...

Adorei tudo!

Carlos Thiago disse...

neste momento: aplauso mental! porém, já aplaudi fisicamente quando terminei de ler o texto. Você escreveu muito bem sobre divagações que eu também costumo ponderar. Enfim, concordo com tudo que você falou ai.. até na parte que eu queria mesmo que aquele garfo pegasse em um dos idiotinhas (não pelos times que eles torcem, mas pela atitude desprovida).
abraço Davi..

Franzé Lage disse...

Quando assisti a demonstração de insultos morais e de ideologismo feito pelo grupo de menores tricolores que estavam naquele restaurante tive a certeza de que há dois tipos bem distintos de comportamentos de torcida. Torcedores tricolores são afetos a esse tipo de comportamento, como tambem de vandalismos na saída do estádio quando o perdem. Agridem os proprios mandatários do seu clube quando estão insatisfeitos com a administração e soltam rojões e fogos e bombas dentro do clube como sinal de protestos. São agressivos e afrontam seus rivais como se fossem desafetos. Provocam brigas e confusão. Do outro lado os torcedores do Ceará possuem um outro tipo de perfil, tanto é que naquele restaurante não se manisfestaram e nem pegaram corda como eles tanto quiseram. Uma torcida é de primeira divisão e a outra e de quinta categoria e marginal à vida. Agridem a vida quando ela se mostra revés. Triste fim daqueles que não sabem perder porque não conhecem o caminho da vitória e da manutenção do sucesso.

Jornalista Augusto Pinz - MTB/RS 16.152 disse...

Parabéns, belo texto.
Fanatismo não leva a nada.
www.augustopinz.com.br